O papel fundamental da educação no desenvolvimento das
pessoas e das sociedades amplia-se ainda mais no despertar do novo milênio e
aponta para a necessidade de se construir uma escola voltada para a formação de
cidadãos.
Vivemos numa era marcada pela competição e pela
excelência, em que progressos científicos e avanços tecnológicos definem exigências
novas para os jovens que ingressarão no mundo do trabalho.
Tal demanda impõe uma revisão dos currículos, que orientam o trabalho cotidianamente realizado pelos professores e especialistas em educação do nosso país.
Assim, é com imensa satisfação que entregamos aos
professores das séries finais do ensino fundamental os Parâmetros Curriculares
Nacionais, com a intenção de ampliar e aprofundar um debate educacional que
envolva escolas, pais, governos e sociedade e dê origem a uma transformação
positiva no sistema educativo brasileiro.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais foram elaborados procurando, de um lado, respeitar diversidades regionais, culturais, políticas existentes no país e, de outro, considerar a necessidade de construir referências nacionais comuns ao processo educativo em todas as regiões brasileiras.
Com isso, pretende-se criar condições, nas escolas, que permitam
aos nossos jovens ter acesso ao conjunto de conhecimentos socialmente
elaborados e reconhecidos como necessários ao exercício da cidadania.
Os documentos apresentados são o resultado de um longo
trabalho que contou com a participação de muitos educadores brasileiros e têm a
marca de suas experiências e de seus estudos, permitindo assim que fossem
produzidos no contexto das discussões pedagógicas atuais.
Inicialmente foram elaborados documentos, em versões
preliminares, para serem analisados e debatidos por professores que atuam em
diferentes graus de ensino, por especialistas da educação e de outras áreas,
além de instituições governamentais e não- governamentais.
As críticas e sugestões apresentadas contribuíram para a
elaboração da atual versão, que deverá ser revista periodicamente, com base no
acompanhamento e na avaliação de sua implementação.
Esperamos que os Parâmetros sirvam de apoio às discussões
e ao desenvolvimento do projeto educativo de sua escola, à reflexão sobre a
prática pedagógica, ao planejamento de suas aulas, à análise e seleção de
materiais didáticos e de recursos tecnológicos e, em especial, que possam
contribuir para sua formação e atualização profissional.
O
educador como cidadão
Propor que a escola trate questões sociais na perspectiva
da cidadania coloca imediatamente a questão da formação dos educadores e de sua
condição de cidadãos.
Para desenvolver sua prática os professores precisam
também desenvolver-se como profissionais e como sujeitos críticos na realidade
em que estão, isto é, precisam poder situar-se como educadores e como cidadãos,
e, como tais, participantes do processo de construção da cidadania, de
reconhecimento de seus direitos e deveres, de valorização profissional.
Tradicionalmente a formação dos educadores brasileiros
não contemplou essa dimensão. As escolas de formação inicial não incluem
matérias voltadas para a formação política nem para o tratamento de questões
sociais.
Ao contrário, de acordo com as tendências predominantes
em cada época, essa formação voltou-se para a concepção de neutralidade do
conhecimento e do trabalho educativo.
Porém, o desafio aqui proposto é o de não esperar por
professores que só depois de “prontos” ou “formados” poderão trabalhar com os
alunos. Sem desconhecer a necessidade de investir na formação inicial e de
criar programas de formação continuada, é possível afirmar-se que o debate
sobre as questões sociais e a eleição conjunta e refletida dos princípios e
valores, assim como a formulação e implementação do projeto educativo já iniciam
um processo de formação e mudança.
A discussão sobre ética necessita ser constantemente
contemplada e acompanhar de perto o trabalho que se faz com os alunos, uma vez
que se trata de uma proposta nova, como processo sistemático e explícito, necessitando
aprofundamento, leituras e discussões, levantando situações a serem experimentadas
com os alunos etc.
Para o professor, a escola não é apenas lugar de
reprodução de relações de trabalho alienadas e alienantes.
É, também, lugar de possibilidade de construção de
relações de autonomia, de criação e recriação de seu próprio trabalho, de
reconhecimento de si, que possibilita redefinir sua relação com a instituição,
com o Estado, com os alunos, suas famílias e comunidades.
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